O Operário Avance, o Futebol Feminino se Arrasta: Uma Vitória que Causa Mais Indagações do que Celebração

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A tão sonhada classificação do Operário no Brasileirão Feminino esconde as verdadeiras batalhas que o futebol das mulheres ainda enfrenta.

Ah, o futebol feminino! Um universo de heroínas, dribles geniais e, claro, a eterna luta por reconhecimento. E, como num roteiro clichê de filme de superação, o Operário, aquele time que alguns mal sabem que existe, conseguiu um feito inédito: avançar no Brasileirão Feminino. Palmas, fogos de artifício, chuva de confetes… ou talvez não. Porque, sejamos francos, a euforia por essa conquista esconde, como sempre, a dura realidade por trás dos holofotes.

A notícia, em si, é até animadora. O Operário, com suas jogadoras guerreiras, superou as adversidades e carimbou o passaporte para a próxima fase. Uma vitória em Brasília, contra um time que, provavelmente, também enfrentava seus próprios desafios, é digna de nota. Mas vamos combinar: uma andorinha só não faz verão. E, no caso do futebol feminino, uma vitória não garante a primavera.

Onde está o dinheiro?

A questão financeira é crucial. Onde estão os patrocínios milionários? Onde estão os contratos de televisão que garantem a sustentabilidade dos clubes? Onde está a valorização das atletas, que muitas vezes precisam conciliar o futebol com outras atividades para sobreviver? A resposta, meus caros, é decepcionante. O dinheiro, como sempre, parece preferir o brilho dos homens, a ostentação dos craques, a pompa dos estádios lotados.

E não me venham com a ladainha de que o futebol feminino não gera receita. Gera, sim! Mas a torta não é dividida de forma justa. As marcas investem onde há público, onde há visibilidade. E o que acontece quando o futebol feminino não tem visibilidade? Um ciclo vicioso, claro.

A hipocrisia da mídia e dos clubes

A mídia, por sua vez, também tem sua parcela de culpa. É fácil encher a boca de palavras bonitas quando o assunto é igualdade de gênero, mas a cobertura do futebol feminino ainda é tímida, esporádica, quase sempre relegada a espaços secundários. E quando surge uma notícia como essa, o tom é de surpresa, de espanto, como se fosse algo absolutamente inusitado.

Os clubes, por outro lado, adoram usar o discurso da inclusão, da diversidade, mas na prática, a realidade é bem diferente. Muitos ainda tratam o futebol feminino como um projeto social, uma obrigação, e não como um investimento estratégico. As estruturas são precárias, os salários são baixos, e as jogadoras, muitas vezes, são tratadas como cidadãs de segunda classe.

Um olhar para o passado: a repetição de um padrão

A história do futebol feminino no Brasil é marcada por altos e baixos, por avanços e recuos. Houve épocas de glória, com a seleção brasileira conquistando títulos e encantando o mundo. Mas, logo em seguida, veio o ostracismo, o esquecimento, a falta de apoio.

Lembro-me bem da Copa do Mundo de 1999, quando a seleção brasileira feminina chegou às semifinais, com Marta, Sissi e Formiga brilhando nos gramados americanos. Foi um momento mágico, que parecia prenunciar um futuro promissor. Mas, infelizmente, a euforia durou pouco. O investimento não foi mantido, a visibilidade diminuiu, e o futebol feminino voltou a ser relegado a segundo plano.

Estratégias de imagem e interesses ocultos

É preciso ficar atento às entrelinhas. Muitas vezes, a celebração de uma vitória como essa serve apenas para mascarar os verdadeiros problemas, para desviar o foco das questões mais importantes. É fácil posar de defensor do futebol feminino, de aliado da causa, quando a pressão diminui, quando os holofotes se apagam.

Por trás dessa suposta “conquista”, podem estar interesses diversos. Pode ser uma estratégia de imagem de um clube, uma forma de atrair patrocinadores, de angariar simpatia do público. Pode ser, também, uma jogada política, uma forma de demonstrar compromisso com a igualdade de gênero, de se desviar das críticas e das cobranças.

As possíveis repercussões: o que esperar do futuro?

O futuro do futebol feminino no Brasil é incerto. Depende de muitas variáveis, de decisões políticas, de investimentos, de mudanças culturais. Mas, uma coisa é certa: a luta continua. As jogadoras, as treinadoras, as dirigentes, os torcedores, todos aqueles que acreditam no poder do futebol feminino, precisam se manter firmes, unidos, para que essa modalidade finalmente ocupe o lugar que merece.

É preciso pressionar os clubes, a CBF, a mídia, os patrocinadores. É preciso cobrar resultados, exigir mudanças, denunciar as injustiças. É preciso, acima de tudo, não se deixar enganar pela euforia passageira.

A vitória do Operário é importante, sim. Mas não podemos nos contentar com isso. É preciso ir além, lutar por um futebol feminino mais justo, mais igualitário, mais valorizado. Um futebol feminino que não seja apenas um reflexo do masculino, mas que tenha sua própria identidade, sua própria história, seu próprio brilho.

Afinal, o futebol feminino não precisa de nossa pena, precisa de nosso respeito. E, principalmente, precisa de oportunidades iguais. Que a classificação do Operário seja apenas o começo de uma jornada gloriosa, e não apenas um ponto fora da curva em meio a um cenário de desigualdade persistente. Que essa vitória inspire, mas que não nos cegue. Que sirva de combustível para a luta, e não de anestesia para a conformidade. O futebol feminino merece muito mais do que migalhas. Ele merece, e precisa, de uma fatia generosa do bolo. E que o Operário, com sua garra e determinação, continue a abrir caminhos, mesmo que o caminho ainda seja longo e cheio de obstáculos.


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