A Inocência Acaba no Sub-13: O Estadual que (Não) Forma Craques e (Só) Infla Ego

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**A fase eliminatória do Campeonato Estadual Sub-13 começa. Preparem-se para o show de lágrimas, pais surtando e, quem sabe, a descoberta do próximo Neymar (ou não)**.

Ah, o futebol de base! A terra prometida onde a pureza do esporte se encontra, supostamente, com a descoberta de talentos mirins. Aquele palco onde a inocência deveria reinar, mas que, como todos os palcos, é palco de vaidades, ambições e, não raro, de um festival de hipocrisia. E agora, com o início da fase eliminatória do Estadual Sub-13, a cortina se abre para mais um capítulo dessa novela.

A notícia, que poderia ser uma simples cobertura esportiva, revela muito mais do que apenas resultados e escalações. Ela nos entrega um retrato fiel – e por vezes grotesco – do que se esconde por trás dos gramados impecáveis, das camisas vibrantes e do suposto desenvolvimento de futuros craques.

A Ilusão do “Projeto” e a Falácia da Formação

No cerne da questão, reside a hipocrisia da “formação”. Todos falam em lapidar talentos, em ensinar valores, em construir cidadãos de bem através do esporte. Mas, na prática, o que se vê é uma busca desenfreada por resultados, uma competição que, muitas vezes, atropela o desenvolvimento individual dos jovens atletas.

Lembro-me, com nostalgia e um toque de sarcasmo, dos tempos áureos da minha infância, quando a maior preocupação era se a bola era de couro ou de plástico. O futebol era sinônimo de liberdade, de amizade, de pura diversão. Hoje, no entanto, a pressão é tanta que a diversão parece ter se tornado um luxo, uma raridade.

Os clubes, com seus “projetos” mirabolantes, prometem transformar meninos em máquinas de fazer gols e vender camisas. Mas quantos desses “projetos” realmente se preocupam com a formação integral dos atletas? Quantos se preocupam com a educação, com a saúde mental, com a preparação para a vida, caso a carreira no futebol não vingue? A resposta, infelizmente, é desanimadora.

O Circo de Pais e Empresários: A Indústria da Vaidade

A figura dos pais, no futebol de base, merece um capítulo à parte. De torcedores fanáticos a “empresários” improvisados, eles se tornam os maiores algozes dos seus filhos. Vivem e respiram o futebol, transformando cada jogo em uma batalha pessoal. Gritam, xingam, brigam com árbitros, com outros pais, com os próprios filhos. Acreditam que o sucesso de seus filhos é o sucesso deles, e que qualquer insucesso é uma ofensa pessoal.

Essa pressão, somada à ambição de empresários oportunistas, cria um ambiente tóxico, onde a competitividade ultrapassa os limites do aceitável. Vemos, com frequência, crianças sendo disputadas como mercadorias, negociadas em “acordos” obscuros, e sendo forçadas a tomar decisões que não deveriam tomar.

A Política Esportiva e a Falta de Estrutura: Onde Estão as Melhorias?

É impossível falar sobre futebol de base sem tocar na questão da política esportiva. Os campeonatos estaduais, como este Sub-13, deveriam ser a vitrine do desenvolvimento do esporte em cada região. Mas, na prática, o que vemos é a falta de estrutura, a precariedade dos campos, a ausência de investimentos e a falta de planejamento.

A corrupção, os conchavos políticos e a falta de profissionalismo minam qualquer tentativa de construir um futebol de base sólido e eficiente. Os recursos, que deveriam ser investidos na formação de atletas, muitas vezes são desviados, desperdiçados ou usados para outros fins.

Olhando para o Futuro: É Possível Mudar o Jogo?

Diante desse cenário sombrio, a pergunta que fica é: há esperança? É possível mudar o jogo? A resposta, como sempre, é complexa. Mas, se quisermos um futuro melhor para o futebol brasileiro, precisamos de uma mudança de mentalidade.

É preciso priorizar a formação integral dos atletas, e não apenas a busca por resultados imediatos. É preciso educar os pais, conscientizando-os sobre a importância de apoiar seus filhos, sem pressioná-los ou transformá-los em “projetos”. É preciso investir em estrutura, em profissionais qualificados e em um planejamento a longo prazo.

É preciso, acima de tudo, resgatar a essência do futebol: a paixão, a diversão, a amizade. É preciso lembrar que o futebol é um jogo, e que, antes de tudo, ele deve ser um prazer.

No final das contas, o Estadual Sub-13 é apenas um microcosmo de um problema maior. É um reflexo da nossa sociedade, com suas ambições, suas vaidades e suas hipocrisias. Mas, se olharmos para ele com olhos críticos, com ironia e com esperança, podemos aprender muito. Podemos aprender a valorizar a inocência, a proteger as crianças e a construir um futuro melhor para o futebol brasileiro.

A fase eliminatória do Estadual Sub-13 começou. Que a bola role, que os talentos apareçam e que, acima de tudo, a gente não perca a esperança. Afinal, o futebol, com todos os seus defeitos, ainda é capaz de nos emocionar, de nos unir e de nos fazer sonhar. E, quem sabe, um dia, a gente consiga transformar esse sonho em realidade.


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