São Paulo e Fluminense Empatam: Mais um Capítulo da Novela Sem Fim do Futebol Feminino Brasileiro
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O Jogo: Entre Gols, Emoções e a Inevitável Sensação de Déjà Vu
O futebol feminino brasileiro, ah, o futebol feminino brasileiro… Um eterno recomeço, um eterno “quase lá”, uma novela que se arrasta há anos, com mais reviravoltas e barracos que a trama das sete. E, como de costume, mais um empate movimentou o Brasileirão Feminino, desta vez protagonizado por São Paulo e Fluminense. A partida, descrita como “agitada” – adoro essa palavra genérica que pode significar qualquer coisa, desde um jogo emocionante até um festival de erros e passes errados –, nos entrega mais um prato cheio de reflexões (e frustrações) sobre o estado da arte do futebol feminino no país.
A tal “partida agitada” prometia emoções, e, convenhamos, entregou o que se esperava: gols, lances de perigo e, claro, o empate que, para muitos, é sinônimo de… bem, de empate. Não há como negar a evolução do futebol feminino nos últimos anos. As jogadoras estão mais preparadas, a tática se aprimorou e a visibilidade, embora ainda aquém do ideal, aumentou. Mas, convenhamos, ainda estamos longe de um espetáculo de nível europeu ou, até mesmo, da empolgação que o futebol masculino, em seus melhores momentos, consegue gerar.
O que não nos contam:
- A precariedade: Quantos dos estádios onde se joga o Brasileirão Feminino oferecem as mesmas condições dos jogos masculinos? Quantos gramados estão em boas condições? Quantas equipes têm estrutura de verdade, com boas comissões técnicas, suporte médico adequado e condições de treinamento dignas? A resposta, meus caros, é desanimadora. A disparidade de recursos entre os clubes é gritante e, convenhamos, injusta.
- A falta de investimento: Onde está o dinheiro que o futebol feminino tanto precisa? Os patrocinadores, as emissoras de televisão, os clubes… Todos parecem ter a boca cheia de palavras bonitas sobre a importância do futebol feminino, mas, na prática, o investimento é pífio. E, sem investimento, não há como desenvolver o esporte de forma consistente e sustentável. É como plantar sementes em terreno infértil e esperar colher frutos.
- A invisibilidade: Quantos jogos do Brasileirão Feminino são transmitidos em TV aberta? Quantos recebem a mesma cobertura midiática dos jogos masculinos? A resposta, mais uma vez, é triste. A falta de visibilidade é um dos maiores obstáculos ao crescimento do futebol feminino. Sem exposição, o esporte não atrai novos torcedores, não gera engajamento e não atrai o investimento que tanto precisa.
- A hipocrisia: Muitos clubes e dirigentes se vangloriam de apoiar o futebol feminino, mas, na prática, o tratam como um projeto secundário, um “plus” para justificar uma imagem de modernidade e engajamento social. E, assim, o futebol feminino continua sendo relegado a segundo plano, com as jogadoras lutando com unhas e dentes para conseguir o mínimo de reconhecimento e apoio.
O Empate: Um Reflexo do Nosso Futebol Feminino
O empate entre São Paulo e Fluminense, em si, não é nada de mais. Faz parte do jogo. Mas, para mim, ele simboliza muito mais do que isso. Simboliza a estagnação, a falta de ousadia, a acomodação. É o retrato fiel de um futebol feminino que, embora tenha dado passos importantes, ainda patina em terreno pantanoso.
O futebol feminino brasileiro precisa de uma revolução. Precisa de investimento, de profissionalismo, de visibilidade. Precisa, acima de tudo, de pessoas que realmente acreditem no potencial do esporte, que se importem com as jogadoras, que lutem por condições dignas de trabalho.
O Passado que Assombra o Presente: Lembranças que Precisam ser Confrontadas
Para entender o presente, é preciso olhar para o passado. E, no futebol feminino, o passado é repleto de histórias de lutas, de conquistas, mas também de preconceitos, de descasos e de promessas não cumpridas.
- A história das pioneiras: As jogadoras que abriram caminho para as que hoje brilham nos gramados enfrentaram, além das dificuldades financeiras e estruturais, o preconceito. Foram chamadas de “sapatonas”, “machonas” e sofreram com a falta de apoio da sociedade.
- O longo período de proibição: Até 1979, o futebol feminino era proibido no Brasil. Uma lei da ditadura militar impedia as mulheres de praticarem esportes considerados “incompatíveis com a natureza feminina”. A proibição foi um golpe duro que retardou o desenvolvimento do esporte em nosso país.
- A falta de profissionalização: Por muito tempo, as jogadoras eram amadoras e precisavam conciliar o futebol com outras atividades para sobreviver. A profissionalização, embora tenha avançado nos últimos anos, ainda é precária e não atinge todas as atletas.
- Os escândalos: Como em qualquer modalidade esportiva, o futebol feminino também teve seus escândalos de corrupção, de desvio de verbas e de falta de transparência.
Essas histórias nos mostram que a luta pelo futebol feminino é antiga e que as jogadoras, dirigentes e torcedores precisam se manter firmes em busca de seus objetivos. Não podemos esquecer o passado e, principalmente, não podemos repetir os erros do passado.
Olhando para o Futuro: O Que Precisamos Mudar?
O futebol feminino brasileiro tem um futuro promissor, mas para que ele se concretize, algumas mudanças são urgentes e necessárias:
- Investimento massivo: É preciso que os clubes, os patrocinadores e as emissoras de televisão invistam de forma consistente e a longo prazo no futebol feminino.
- Profissionalização completa: Todas as jogadoras devem ter condições de trabalho dignas, com salários justos, suporte médico adequado e condições de treinamento de qualidade.
- Visibilidade constante: Os jogos do Brasileirão Feminino devem ser transmitidos em TV aberta, com cobertura midiática ampla e consistente.
- Valorização da modalidade: É preciso que a sociedade reconheça a importância do futebol feminino e valorize as jogadoras, seus feitos e suas conquistas.
- Combate ao preconceito: É preciso combater o machismo e a discriminação que ainda persistem no futebol e na sociedade.
A mudança não acontecerá da noite para o dia. É um processo longo e árduo, que exige a participação de todos: jogadoras, dirigentes, torcedores, imprensa e sociedade em geral. Mas, com determinação, com trabalho e com muita paixão, o futebol feminino brasileiro pode, finalmente, alcançar o lugar que merece.
A Ironia Final: A Esperança que Resiste
Enquanto isso, seguimos acompanhando os jogos, vibrando com os gols, criticando os erros e, acima de tudo, torcendo para que um dia, o futebol feminino brasileiro deixe de ser uma novela e se torne uma história de sucesso, com finais felizes e com muitas conquistas.
E, enquanto isso não acontece, seguimos rindo das ironias do destino, dos empates que se repetem e da esperança que teima em não nos abandonar. Porque, afinal, sem esperança, o que nos resta?

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